SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após a Alemanha, no começo da semana, foi a vez de outro aliado de Israel subir o tom contra a guerra na Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira (30), o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que pode endurecer sua posição em relação ao Estado judeu se o bloqueio a ajuda humanitária no território palestino se manter -e foi imediatamente criticado por Tel Aviv.
"O bloqueio humanitário está criando uma situação insustentável em solo", disse o presidente francês em uma entrevista coletiva em Singapura ao lado do primeiro-ministro do país asiático, Lawrence Wong. "Se abandonarmos Gaza, se considerarmos que há um salvo-conduto para Israel -embora condenemos os ataques terroristas-, perderemos nossa credibilidade"
Macron afirmou ainda que a França pode considerar aplicar sanções contra colonos israelenses e que o reconhecimento de um Estado palestino "não é simplesmente um dever moral, mas sim uma exigência política".
"Se não houver uma resposta que atenda à situação humanitária nas próximas horas e dias, obviamente, teremos que endurecer nossa posição coletiva", disse, referindo-se a outros países europeus. "Mas ainda espero que o governo de Israel mude de posição e que finalmente tenhamos uma resposta humanitária."
Entre março e maio, a população de Gaza foi submetida a um bloqueio total de ajuda imposto por Israel, o que deixou a situação humanitária no território insustentável, segundo organizações que atuam no local. Sob intensa pressão internacional, Tel Aviv suspendeu a medida após 11 semanas no começo do mês, mas apenas parcialmente.
O território palestino está devastado e enfrenta escassez de água, comida, combustível e medicamentos após quase 20 meses de bombardeios. Segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população de 2,1 milhões de pessoas no território está em risco de insegurança alimentar, e 470 mil está em "níveis catastróficos" de fome.
Há ainda falta de insumos aos 18 dos 36 hospitais do território que estão parcialmente funcionando. Na semana ada, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que o sistema de saúde de Gaza estava em um ponto crítico, e que 94% de todos os hospitais estavam danificados ou destruídos.
Para o Ministério das Relações Exteriores de Israel, porém, a afirmação de que houve um bloqueio humanitário em Gaza é "uma mentira descarada". O ministério afirmou que quase 900 caminhões de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza desde que o bloqueio foi flexibilizado e defendeu o controverso sistema de distribuição de alimentos criado recentemente e apoiado pelos EUA.
"Mas, em vez de pressionar os terroristas jihadistas, Macron quer recompensá-los com um Estado palestino", afirmou a pasta ao acusar Paris de empreender uma "cruzada contra Estado judeu" -uma afirmação carregada de simbolismo devido à perseguição a judeus nas guerras religiosas da Idade Média.
Mesmo assim, Macron está inclinado a reconhecer um Estado palestino, segundo diplomatas e especialistas. Autoridades sas estão avaliando a medida antes de uma conferência da ONU que a França e a Arábia Saudita coorganizarão em junho.
A medida que pode enfurecer Israel e aprofundar as divisões no Ocidente -em maio do ano ado, Espanha, Irlanda e Noruega reconheceram o Estado palestino, despertando críticas de Tel Aviv.
Já a Alemanha, que já havia ameaçado tomar medidas contra Tel Aviv no começo da semana, disse nesta sexta que vai aprovar ou não novos envios de armas para o Estado judeu com base em uma avaliação da situação humanitária em Gaza.
Em uma entrevista ao jornal Sueddeutsche Zeitung, o ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, foi questionado sobre a conformidade com o direito internacional das ações de Israel no território palestino. "Estamos examinando isso e, se necessário, autorizaremos novas entregas de armas com base nessa análise", disse ele.