O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, enfrenta um problema sanitário e de bem-estar animal que acende o alerta no setor avícola: de acordo com dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF), vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), foram registrados 122.295 casos de canibalismo entre frangos até maio de 2025.
Segundo o SIF, o comportamento é resultado de fatores como superlotação, estresse, falhas no manejo e dietas nutricionalmente inadequadas. As aves acabam atacando umas às outras, com bicadas que podem gerar ferimentos graves, principalmente na cauda, nas asas e no pescoço.
Em entrevista ao portal Metrópoles, a professora Liris Kindlein, especialista em avicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explicou que o canibalismo em granjas é multifatorial. "Ele pode estar ligado à densidade populacional muito alta, falta de ventilação, níveis elevados de amônia e deficiências nutricionais, especialmente de proteínas e aminoácidos como metionina", disse.
Ainda de acordo com os dados do SIF, foram registrados também 16 mil casos de tumores em frangos, além de lesões, contaminações gastrointestinais e problemas articulares. Ao todo, foram mais de 248 milhões de registros de anormalidades que podem resultar na condenação parcial ou total das carcaças abatidas.
Essas ocorrências preocupam não apenas pela questão sanitária, mas também pelo impacto na produção. De acordo com especialistas consultados pelo Metrópoles, o modelo de criação intensiva adotado em grande parte das granjas prioriza o crescimento rápido das aves, o que favorece o surgimento de doenças metabólicas e comportamentos anormais.
Apesar do cenário, o Ministério da Agricultura afirma que há fiscalização constante nas granjas, especialmente para evitar a disseminação de doenças como a gripe aviária, cuja contenção depende de ações rápidas e eficazes.
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